A visita de três dias do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil não convenceu sobre suas reais intenções. Em seus editoriais deste sábado, 30, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo trataram a vinda do mandatário como uma viagem “pitoresca” para intensificar o protecionismo ao país estrangeiro, que teme a competição.
O Estadão destacou “velhos projetos e promessas incertas” como saldos do tour pelas terras brasileiras. Os dois presidentes são contrários ao acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia. Sobre isso, Macron deixou um recado disfarçado de preservação ambiental: “É um péssimo acordo”, pois não leva em conta o clima.
Para o jornal, o cuidado com a biodiversidade não passa de discurso para barrar o ultracompetitivo agro brasileiro.
Na agenda, não houve uma visita sequer a uma fazenda de soja ou gado, ou encontro com comitês de agrônomos e ambientalistas ou avaliação de dossiês que comprovam os altos índices de sustentabilidade do agro, por exemplo.
“Macron não diz, mas é indisfarçável sua intenção de blindar os fazendeiros franceses”, observou o texto.
Acordo Mercosul-União Europeia
O que os dois presidentes desconsideram é que promessas ambientalistas não seriam tão benéficas para os povos amazônicos quanto o acordo Mercosul-União Europeia.
“Seria um poderoso instrumento para estimular a produtividade, gerar emprego e renda e ajudar aquela população a sair da miséria”.
Protecionismo
A Folha também acredita que Mácron “usa o clima para justificar o protecionismo”. A agenda econômica claramente “rechaçou os termos do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, defendendo novas negociações, a começar do zero, com foco na biodiversidade”.
O francês disse que seu país não poderá abrir o mercado agrícola a produtores externos que não estejam sujeitos às mesmas exigências ambientais.
“Não se disfarça o protecionismo, posição tradicional francesa que sempre foi o maior obstáculo nas negociações”, destacou o editorial.
A Europa vive um momento delicado. Diversos países enfrentam protestos maciços de agricultores contra a agenda climática, que obriga o setor a reduzir emissões de carbono e aumenta os custos da produção local.
Mas a criação do bloco comum, segundo estudo publicado pelo Ipea, indica que o acordo ampliaria em 0,46% o PIB brasileiro, até 2040.
Segundo a Folha, Macron pode até ter razão em um aspecto: novos acordos de livre comércio com foco em redução de tarifas podem ser insuficientes no contexto mundial atual.
“Mas isso não pode ser pretexto, no entanto, para evitar a abertura econômica benéfica para a coletividade”, alertou a publicação.
Fonte: Revista Oeste