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Banco Central fez sua parte, mas Lula precisa colaborar, dizem Folha e Estadão

Para jornais, autoridade monetária agiu corretamente ao subir a taxa básica de juros para 12,25%

Banco Central precisa que Lula faça sua parte | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Solitário na tarefa de conter a inflação e segurar as expectativas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu aumentar a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, para 12,25% ao ano. Mais do que isso, explicitou que vai fazer mais duas elevações de mesma magnitude, que vão levar a Selic a 14,25% ao ano em março.

Para o jornal O Estado de S. Paulo, além de alto, o número é um marco simbólico por dois motivos. Primeiro, é o mesmo nível dos juros do início do segundo mandato de Dilma Rousseff, que antecedeu à grande recessão legada pela presidente petista. E é um patamar que superou a máxima observada durante o governo Jair Bolsonaro (PL), de 13,75%, alcançada nos últimos meses de sua gestão.

“Juros altos, como se vê, são apartidários”, diz o Estadão. “Não são exclusividade de governos de direita ou de esquerda, tampouco um fenômeno aleatório da natureza.”

“São apenas a face mais visível de administrações que menosprezam a importância da responsabilidade fiscal e sua relação direta com a inflação para priorizar medidas populistas que facilitem sua permanência no poder”, acrescenta o veículo.

Por óbvio, o Banco Central não teria como desconsiderar a péssima repercussão do ajuste fiscal anunciado pelo governo no fim do mês passado. “As medidas, além de insuficientes para conter a trajetória da dívida pública, ainda foram eclipsadas pela ideia de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais”, avalia o texto.

Depois disso, o dólar rompeu a barreira dos R$ 6, e os juros futuros superaram 14% ao ano.

Para o jornal, o tom do comunicado do Copom foi realista ao reconhecer quanto as expectativas dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal têm afetado, e de forma relevante, os preços dos ativos, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio – o que, por consequência, impacta a condução da política monetária.

O mercado já contava com um aumento nos juros, mas a maioria dos analistas esperava uma alta de 0,75 ponto porcentual. Essa era a aposta de 26 das 38 instituições consultadas, segundo pesquisa realizada pelo Projeções Broadcast, enquanto 11 delas projetavam a elevação de 1 ponto. Apenas uma das instituições consultadas apostava numa elevação mais tímida, de meio ponto.

“Mais do que a decisão em si mesma, o que surpreendeu foi a sinalização de que a mesma pancada virá nas próximas duas reuniões do Copom, a serem realizadas em janeiro e março”, diz o Estadão.

Mandato de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central vai até o fim de 2024 | Foto: Reprodução/Instagram

O Banco Central abandonou essa prática em maio, quando a diretoria se dividiu, por cinco a quatro, entre aqueles que preferiam uma redução de 0,50 ponto e os que votaram em uma queda de 0,25 ponto.

Desta vez, todos os diretores parecem ter concordado sobre a orientação futura a ser adotada na condução da política monetária, uma sinalização importante às vésperas de Roberto Campos Neto deixar o Banco Central.

Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula da Silva, vai iniciar seu mandato como presidente da instituição com decisões amarradas nas próximas duas reuniões, o que ajuda a vencer eventuais desconfianças sobre suas intenções no cargo.

“Com maioria de nomes indicados por Lula no Copom a partir do ano que vem, o governo e o PT terão de achar outro bode expiatório a quem culpar”, avalia o texto. “Nada, no curto prazo, indica que o cenário com que o Banco Central trabalha deva melhorar.”

Inflação e câmbio são “pedra no sapato” do Banco Central

No comunicado, o Banco Central reiterou que os indicadores sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho continuam a apresentar dinamismo e destacou que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre reforçou essa tese. Tanto a inflação quanto seus núcleos seguem acima da meta e as expectativas mantêm trajetória de alta para este e os próximos dois anos.

O câmbio não vai ajudar na tarefa de perseguir a meta de inflação. Além da pancada nos juros, o Copom aproveitou o ensejo para anunciar leilões cambiais e injetou US$ 4 bilhões no mercado. Como resultado, a moeda norte-americana recuou e abriu a sessão perto de R$ 5,90 na quinta-feira, mas voltou a fechar em R$ 6 o fim do dia.

“Em suma, os riscos que marcavam o cenário doméstico se materializaram, fazendo com que as incertezas se transformassem em adversidades que já não podem mais ser ignoradas”, avalia o jornal.

“O BC fez sua parte para tentar conter as expectativas e não parece disposto a abdicar nem de sua autonomia, nem de sua missão”, acrescenta. “Falta o governo fazer a parte dele.”

Folha diz que governo precisa restabelecer confiança nas contas públicas

Para o jornal Folha de S.Paulo, nada pode afastar o risco de uma crise econômica enquanto o governo não conseguir restabelecer a confiança em suas contas.

“Apontar que o déficit orçamentário caiu neste ano é de pouca valia quando a base de comparação é o rombo exorbitante produzido no ano passado”, diz a publicação.

Além disso, há que indicar providências efetivas capazes de sustar, num horizonte visível, a escalada da dívida pública, que desde o ano passado saltou de 71,7% para 78,6% do Produto Interno Bruto.

A política fiscal também precisa ajudar o Banco Central na missão de levar a inflação de 2025, ora projetada em 4,6%, para a meta de 3%.

“Hoje, a alta contínua dos gastos públicos, com a qual a administração petista impulsiona um crescimento econômico de duração duvidosa, pressiona também o consumo e os preços”, avalia a Folha.

“Se toda a tarefa ficar com os juros, a Selic nas alturas arruinará ainda mais as contas do Tesouro Nacional; dúvidas quanto à solvência do Estado manterão o dólar em alta, e com ele mais inflação e juros, até o ponto em que empregos serão destruídos e a pobreza voltará a crescer”, diz o veículo. “Essas são as contas que todos fazem, ou deveriam fazer, no momento.”

Fonte: Revista Oeste

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