Articulista escreve sobre os 10 anos da Operação Lava Jato
A Lava Jato completa dez anos. Seu legado é duplo. Um, óbvio: pela primeira vez se julgou, investigou e se prendeu corruptos de colarinho branco no brasil. A operação foi um divisor de águas na história da república brasileira. O Brasil Colônia, o Brasil Império e o Brasil República sempre foram dominados por uma elite espúria e corrupta que explorou o trabalho da população.
Primeiramente, a exploração se deu pela escravidão e pelo pagamento de impostos, que sempre ia direta ou indiretamente para os bolsos do ajuntamento entre monarcas, legisladores, empresários e juízes que manipulavam a Justiça e a consciência do pais. A Lava Jato simplesmente desbaratou este sistema secular e botou vários destes corruptos na cadeia, culminando com o próprio presidente da República, Lula, condenado em três instâncias por uma dezena de juízes a dez anos de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O princípio da Lava Jato foi o Mensalão e o Petrolão, esquemas simples em que o PT capitaneava um esquema abissal de corrupção que pegava dinheiro público do brasileiro e botava no bolso de políticos que votavam e apoiavam o governo. Suborno mais simples. Os próprios ministros do STF aplaudiram — de inicio — o movimento heroico da operação. O ministro Gilmar Mendes chegou a chamar de “cleptocracia” o esquema gigantesco de corrupção comandado pelo PT e que desviava dinheiro de impostos e estatais.
Mas há o segundo legado da Lava Jato e do combate aos corruptos
O legado primeiro da Lava Jato é virtuoso. O legado segundo, contudo, é o do aviso histórico do fundamento perverso da destruição dela, feito pelos mesmos que um dia a elogiaram e a aplaudiram. Os mesmos juízes do Supremo que aplaudiram em uníssono a operação começaram por demonizá-la e terminaram por destruí-la.
A razão é muito simples. A partir do momento em que não só o PT, mas todo o sistema politico foi descoberto com mãos sujas de corrupção, os amigos do rei — ou mais precisamente, os amigos da “injustiça suprema” — começaram a se escandalizar. Demonizar parte do sistema é sustentável. Fazer ver que todo o sistema politico é intrinsecamente corrupto gera revolta do sistema.
“Lula foi praticamente reconduzido à Presidência da República pelas mãos da Justiça Eleitoral”Adrilles Jorge
E o sistema se rebelou com ajuda dos juízes supremos. Lula condenado foi descondenado, foi saído da cadeia por questiúnculas jurídicas patéticas por razões políticas óbvias subsistema: queriam que o maior ícone da corrupção do país voltasse ao poder para absolver a cleptocracia nacional, com benção do Judiciário.
A “rebelião” do sistema contra a operação
O sistema ressuscitou na sua base. Todos os condenados pela Justiça foram sendo soltos um a um para novamente se aproximarem do poder. Lula foi praticamente reconduzido à Presidência da República pelas mãos da Justiça Eleitoral. As praticas licitas da Lava Jato começaram a ser demonizadas pelos próprios juízes supremos que até ontem elogiavam a operação.
Prisões preventivas, delações, premissas, ações constitucionais previstas em lei foram consideradas, de repente, não mais de que de repente, práticas abusivas pelo Supremo. A Lava Jato, bom salientar, não teve uma única prática abusiva. Rastreou a corrupção pelo pais, prendeu preventivamente pessoas com suspeitas claras de corrupção. Estas pessoas fizeram delação premiada e comprovaram esses rastros. Mais: essas pessoas chegaram a devolver dinheiro público roubado aos cofres públicos. Foram duas centenas de pessoas condenadas, passando por todas as esferas da Justiça.
“Empresas envolvidas em esquemas gigantescos de propina, como a JBS e a Odebrecht, tiveram suas condenações e multas anuladas”Adrilles Jorge
O sistema corrupto se rebelou e condenou quem condenou a corrupção no Brasil. Hoje, não só os corruptos foram colocados em liberdade, como muitos deles voltaram ao poder, como o próprio presidente Lula voltou à Presidência — ou à “cena do crime”, como disse seu próprio vice, Geraldo Alckmin.
Gente como Sergio Cabral — réu confesso, delator confesso, condenado a séculos de prisão por corrupção — recebe homenagens de escola de samba e promete voltar à vida publica. Empresas envolvidas em esquemas gigantescos de propina, como a JBS e a Odebrecht, tiveram suas condenações e multas anuladas e podem até cobrar indenização do Estado. Companhias corruptas, que roubaram dinheiro em conluio com o PT, podem agora cobrar de você, cidadão lesado, por lhe terem roubado. Tudo isso ação da nossa injustiça suprema.
Ainda sobre a “injustiça suprema”
O aterrador é que a própria injustiça suprema faz aquilo que hoje acusa a Lava Jato — que nunca fez. Prisões arbitrárias, sem o devido processo legal, prisões preventivas sem fim por crime de opinião. Um deputado preso por ter desaforado ministros do Supremo condenado a dez anos de cadeia, um preso morto na cadeia sem julgamento, sem saber do que era acusado, por estar na Praça dos Três poderes na invasão do 8 de janeiro.
Pessoas perdendo contas bancárias, perdendo contas em redes sociais e perdendo a liberdade por terem criticado a parcialidade da Justiça Eleitoral, por terem pedido mais transparência nas eleições. Projeção espelhada: a injustiça suprema condena os outros daquilo que ela faz. Com mais uma brutal diferença: os prisioneiros da Lava Jato eram condenados por corrupção; os prisioneiros da injustiça suprema são condenados por crimes de opinião — e sem investigação, mas com inquéritos baseados em crimes que não existem no condigo penal, tais como fake news ou discurso de ódio. Abstrações criadas pelo Supremo para prender gente que não se encaixa no molde da verdade suprema.
“Os verdadeiros criminosos comemoram. A maior parte deles voltou ao poder”Adrilles Jorge
O Brasil se transformou numa realidade bizarra invertida. Pessoas são presas e arruinadas por crime de opinião. Os corruptos e criminosos reais têm todas as garantias de defesa previstas por lei. Pedófilos, traficantes e assassinos têm plenos direitos e saem da cadeia em tempo hábil, isso se e quando condenados. Os verdadeiros criminosos comemoram. A maior parte deles voltou ao poder e comanda a caça às bruxas a todos aqueles que um dia combateram o crime no Brasil.
Fonte: Revista Oeste