Reprimidos pelos períodos mais rígidos da pandemia da Covid-19, na qual quase todo o comércio e setor de turismo foram fechados, os consumidores se mostram mais otimistas com a flexibilização pela vacina e controle da doença. E a classe mais rica deve gastar 12,5% a mais com viagens e compras, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas ( FGV)
Embora haja uma expectativa de movimentação superior do que a registrada no ano passado, o setor varejista não acredita que as vendas neste final de ano retomarão aos patamares de antes da pandemia, dada as circunstâncias sanitárias e econômicas às quais o Brasil vem enfrentando.
Por outro lado, o consumidor já planeja gastar mais neste fim de 2021. A personal trainer Maysa Raquel Martins Arruda, que trabalha como autônoma, e foi uma das prejudicadas pelas restrições da pandemia da Covid-19, nos períodos mais severos, disse que se prepara para retornar ao ‘novo normal’: voltando a visitar os familiares, sendo uma das atividades corriqueiras que precisou evitar.
“Estou pensando em sair com a família no final de ano, pois já faz mais de um ano e meio que a gente não se encontra, não se reúne totalmente. Nem com a minha mãe, nem com meus irmãos, nem com os sobrinhos”, programa ela, informando que todos estão imunizados. Já outra atividade que pretende voltar a fazer são as viagens, porém, segundo ela, fará com cautela, devido aos alertas sobre a nova variante Ômicron. “Mas eu penso em me divertir mais, o que não fiz no ano passado”, pontuou.
Maysa faz parte de um universo de consumidores que foram analisados por uma recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que verificou o ânimo da população pós-vacinação e o maior controle da Covid-19. De acordo com o levantamento, houve um avanço de 12,6 pontos percentuais na proporção de pessoas que têm intenção de viajar de férias para hotéis e pousadas em viagens de avião ou ônibus. Por outro lado, ao menos para a pesquisa, as pessoas seguem evitando locais com maiores aglomerações. Prova disso, é que os shows registraram a menor proporção de consumidores com intenção de frequência: apenas 29,5% pretendem frequentar grandes eventos. Já Shoppings centers, bares e restaurantes foram os locais com maior intenção de frequência dos consumidores ouvidos.
Dados de Goiás
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), Valdir Ribeiro, destacou que o comércio já trabalha dentro de uma margem um pouco melhor do que foi em 2020.
Porém, a questão da pandemia, com a constatação de uma nova cepa, a Ômicron, que tem deixado em alerta as autoridades do mundo todo, também vem preocupando o mercado. Acerca da realização da Black Friday, no fim do mês passado, ele frisou que ainda não houve a apuração dos números.
“Apesar do comércio ter retornado a contratar neste fim de ano, ainda estamos passando por uma situação de desemprego”, cita Ribeiro, acrescentando que os benefícios do Governo Federal, como Auxílio Brasil, foram essenciais para manter a economia funcionando durante a pandemia.
Outra expectativa, como todo final de ano, é com o pagamento do décimo terceiro, que deve injetar mais de R$ 6,2 bilhões na economia goiana. Porém, o presidente da FCDL-GO lamenta, ainda, a falta de produtos no mercado.
Endividados
Já os dados da Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras, elaborada pela Federação do Comércio (Fercomércio), e divulgado na sexta-feira (3), apresentaram situações alarmantes do primeiro semestre da economia brasileira.
Para se ter ideia, em termos absolutos, nas capitais, quase 12 milhões de famílias estão endividadas. Isto significa um contingente 6,5% maior do que o registrado no ano passado e 12,8% superior ao visto em 2019, ano anterior à pandemia da Covid-19. Assim, se concluiu, que em apenas dois anos, 1,36 milhão de famílias passaram a conviver com dívidas no Brasil.
No entanto, as condições não são piores, porque o indicador de inadimplência (situação em que a dívida não é paga dentro do prazo) recuou neste ano de 26,3% para 25,6%, em comparação ao ano anterior. Apesar disso, os índices não retornaram ao nível pré-pandemia, sendo que, em 2019, o percentual de lares com contas em atraso era de 23,9%. E, atualmente, mais de 4,3 milhões de famílias estão inadimplentes nas capitais do País.
Dicas para não perder o equilíbrio na hora de gastar
A maior liberdade do consumidor que traz um ar de ‘normalidade’, pode levar muitos consumidor a cometerem deslizes e gastarem mais do que podem. Nada que impeçam a voltar às compras e frequentar locais que tragam a realização de um prazer.
Isto é, de fazer o que se gosta. Pode ser, por outro lado, uma busca para preencher a angústia de ter ficado um longo período em restrições. É o que explica o psicólogo e psicoterapeuta psicanalítico, Renner Cândido Reis.
O especialista salientou que no consultório não tem realizado atendimentos relacionados, por exemplo, com a compulsão por consumir. No entanto, em conversas, ele diz perceber que as pessoas estão buscando esse caminho como ‘rotas’ para o que acham ser a felicidade. Nesse sentido, consumir para aliviar um sentimento “de perda” pode se transformar em frustração.
Isso porque, após a compra, o indivíduo experimenta uma sensação de satisfação, que passa rapidamente. “Então acreditam que voltando a comprar irão preencher o “vazio”, que é a angústia que sentem”, salienta. Reis esclarece que há pessoas com a patologia conhecida como comprador compulsivo (o desejo incontrolável de fazer compras, resultando em gastar muito tempo e dinheiro com produtos), e necessitam de tratamento. Porém, ele comenta que qualquer indivíduo está sujeito, movido pela angústia ou aflição a se refugiar no consumo.
Fonte: Jornal O Hoje