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Falas de Lula são fruto de ignorância, legitimam antissemitismo e colocam o Brasil perto do ‘Eixo do Mal’, diz presidente da Conib

Para Claudio Lottenberg, as frases do petista mostram ideologização e profundo desconhecimento sobre a situação em Israel

O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, considera as declarações do presidente Lula sobre a atuação de Israel na Faixa de Gaza como “lamentáveis” e “fruto de ignorância“.

Lula comparou neste domingo, 18, a operação militar de Israel contra o Hamas, em resposta aos ataques terroristas do dia 7 de outubro, com o extermínio de judeus realizado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

A frase provocou a reação do governo israelense, que convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv. O primeiro-ministro de IsraelBenjamin Netanyahu, considerou que “as palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves”.

Em nota, a Conib salientou que o governo brasileiro “vem adotando uma postura extrema e desequilibrada” em relação à guerra entre Israel e Hamas.

Segundo a Confederação Israelita, a posição reflete um abandono da “tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira”.

Presidente, como o Sr. vê as frases do presidente Lula comparando a operação militar de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto?

São absolutamente decepcionantes, pois retratam alguém que tem absoluto desconhecimento da realidade, ou que tem uma visão completamente tendenciosa e preconceituosa da situação.

O presidente Lula comparou um movimento odioso como o nazismo, que transmitiu uma das mensagens mais nefastas da história, que realmente levou adiante um genocídio, pois havia uma vontade executável de matar judeus só pelo fato de ser judeus, com uma operação de legítima defesa por parte de Israel após um ataque bárbaro sofrido por uma organização terrorista.

No caso dos nazistas havia uma vontade de matar judeus só pelo fato de serem judeus que foi executada. Existia um desejo expresso de fazer isso. Aliás, aquilo foi um genocídio.

No caso de Israel o presidente não se atenta. Israel não pode permitir que uma entidade terrorista como o Hamas queira aniquilar o estado judeu eliminando fisicamente sua população. Fez e avisou que vai fazer de novo. Israel está atuando para resgatar as mais de 130 pessoa que ainda são reféns em Gaza.

Ao que o Sr. atribui essas declarações? Falta de conhecimento? Ideologia? Questões políticas envolvendo países árabes?

É mais ignorância do que outra coisa. É frustrante pois o presidente Lula tem ambições de ter um papel relevante no cenário geopolítico internacional. Mas ele conseguiu uma única coisa: uma manifestação do Hamas que aplaudiu suas falas. Ou seja, Lula acabou sendo reconhecido por uma organização terrorista que sabe sequestrar, matar, colocar crianças vivas dentro de fornos. Esse grupo é composto por criminosos. É uma pena que o nosso presidente, o presidente Lula, seja aplaudido por esse tipo de pessoas. É lamentável.

Nesse terceiro mandato o Sr. percebe uma mudança de postura do presidente Lula em relação ao conflito no Oriente Médio, muito mais dura contra Israel?

Seria mais fácil entender a lógica do presidente Lula se ele aceitasse conversar com as pessoas. Não me parece que o presidente Lula queria discutir sobre seu posicionamento em relação ao conflito no Oriente Médio com mais interlocutores.

A diplomacia brasileira teve historicamente uma posição de equilíbrio, conciliação, moderação, equidistância. Agora, é evidente que houve uma mudança radical. Não sei nem se essa é a linha adotada pelo Itamaraty ou apenas pelo Planalto.

E essa mudança radical observada nos discursos dos presidente causa surpresa. Ele visitou Israel, ele visitou o Yad Vashem, o Museu do Holocausto, ele conhece a realidade do país, onde há 20% da população de árabes, que vivem em paz, com os mesmos direitos dos judeus, como profissionais liberais, como juízes, membros do parlamento, militares, entre outras posições.

Evidentemente o presidente se baseia em informações não necessariamente verídicas e deixa passar informações verdadeiras. Está colocando o Brasil em uma posição complicada em nível internacional.

Peguemos o caso da ação judicial contra Israel apresentada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ). O Brasil foi um incentivador da acusação de que Israel estaria cometendo um genocídio contra os palestinos. Pois bem, a Corte se manifestou pedindo a liberação imediata dos reféns e recomendou que sejam tomados todos os cuidados para que não ocorra um genocídio. E portanto, negando que isso está acontecendo.

Qual é a posição atual do Planalto: continua insistindo na mesma tese. O que não me parece lógico.

O Sr. acha que o presidente está sendo aconselhado de forma errada pelo assessor especial Celso Amorim?

Eu imagino que quando o presidente convida para ser seu assessor uma pessoa que foi um chanceler durante tantos anos, um profissional capacitado, tratando de questões internacionais, imagino que ele o escute. Agora, não sei se essas ideias são do Celso Amorim, de outros assessores ou uma combinação

Mas o Partido dos Trabalhadores (PT) e outros partidos da esquerda se posicionaram duramente contra Israel. Isso não influencia o governo?

Eu não acho que seja uma coisa estruturada. A gente sabe que a esquerda tradicionalmente tem uma preocupação legitima em relação a grupos minoritários, na busca da equidade. E não somente o Partido dos Trabalhadores. Todos nós estamos sensibilizados quando olhamos para os irmãos palestinos que não têm um estado em condições normais.

Mas para entender isso é preciso saber que existem questões mais profundas que levam à esse quadro. Em Gaza foram os palestinos que escolheram Hamas para governar. Eles votaram a favor de um grupo terrorista. Entretanto, acho que isso não seja estruturado dentro do PT.

Essa situação lamentável de civis que estão morrendo, de inocentes, não é fruto do que Israel faz, mas do que membros do Hamas obrigam Israel a fazer. Ao se esconder em hospitais, em escolas, em templos, em uma tática recorrente, e até mesmo dentro de estruturas da ONU.

Após a descoberta de que funcionários da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) teriam participado dos ataques do 7 de outubro os Estados Unidos, a União Europeia, o Reino Unido e as principais democracias do mundo cortaram os financiamentos para a entidade. Na contramão, o presidente Lula anunciou que vai aumentar os recursos repassados para a UNRWA. O que o Sr. achou dessa decisão?

Esse incremento de recursos é surreal. Todo o mundo cortou por que existe a forte suspeita de um vínculo entre a UNRWA e o Hamas. O Brasil vai mais uma vez na contramão do mundo civilizado.

Quando o presidente Lula foi eleito em 2022 o Hamas enviou suas felicitações. Existe um risco de que esse posicionamento do presidente traga o conflito do Oriente Médio para o Brasil? Afinal, Hezbollah está presente na Venezuela graças aos governos Chávez e Maduro, é possível que algo parecido aconteça no Brasil do PT com o Hamas? A CONIB considera um risco que no Brasil se verifiquem ataques terroristas como os que ocorreram na Argentina contra entidades judaicas e a embaixada de Israel nos anos 1990?

Ninguém tem noção do enorme perigo que isso pode representar. Esses grupos terroristas não têm respeito à vida.

O presidente tem um papel importante como formado de opinião. Quando ele da vazão a esse tipo de comentário ele legitima o discurso de ódio. Ele incrementa o risco de que ações antissemitas ocorram no Brasil. E vimos isso nos últimos dias na Bahia, onde uma comerciante judia foi atacada pelo simples fato de ser judia. O presidente está falhando.  

O Sr. acha que essas frases do presidente Lula colocam o Brasil como um pária internacional?

Isso tudo vem se somando a outros movimentos na politica externa brasileira que acabam colocando o Brasil não como um pária, mas como um país associado a regimes autoritários, a ditaduras e ao Eixo do Mal, como no caso do Irã. É muito triste para a diplomacia brasileira.

Fonte: Revista Oeste

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