Jornal afirma que o petista ainda governa como se desfrutasse da fartura de recursos dos seus primeiros mandatos
Em editorial publicado na edição desta sexta-feira, 5, a Folha de S.Paulo demonstrou falta de otimismo com a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário econômico. A adoção de um discurso populista por parte do petista criou um ambiente próprio para as incertezas acerca da política econômica do país e o consequente aumento do dólar e da taxa de juros.
No entanto, diante das repercussões das suas falas nos últimos meses, o petista resolveu agora recuar da retórica contra o Banco Central, a política de juros, o mercado financeiro e as medidas sugeridas para conter gastos públicos.
A mudança foi percebida na quarta-feira 3. Lula buscou agir diferente ao se esquivar de uma pergunta sobre o BC e o dólar, antes de discursar no lançamento do plano para a safra agrícola.
“Eu agora vou conversar sobre feijão e arroz”, disse. “Responsabilidade fiscal não é uma palavra [sic], é um compromisso deste governo desde 2003. E a gente manterá ele [sic] à risca”, informou em seu pronunciamento.
Folha não vê com otimismo mudança de postura de Lula
Assim como Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo determinou a preservação do arcabouço fiscal e anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões para 2025. Haverá revisão das despesas com os benefícios sociais.
O ministro também falou sobre a nova determinação de Lula: as regras orçamentárias para a contenção da dívida pública devem ser preservadas “a todo custo”. Segundo Haddad, o governo está disposto a bloquear despesas para cumprir a meta de reduzir o déficit do Tesouro para perto de zero, ainda neste ano.
A mudança de atitude do presidente, porém, não foi vista com otimismo pelo jornal Folha de S.Paulo:
“Embora bem-vinda, a interrupção da verborragia de Lula e a revisão de gastos não tornam a política fiscal menos insustentável”, analisou o editorial de opinião do veículo na edição desta sexta-feira, 5. Para a Folha, “o conjunto de anúncios é fragílimo”.
“Um contingenciamento emergencial de gastos será bem-vindo, mas neste momento as projeções do governo para receitas e despesas — e, portanto, para o cumprimento da meta fiscal — estão plenamente desacreditadas”, afirma o editorial. “Não parece provável, assim, que a medida se dará na dimensão necessária.”
De acordo com o jornal, o “corte” prometido para 2025 não passa de uma “reestimativa de custos, a ser verificada”.
“O pente-fino nos benefícios é sempre salutar, porém, vai equivaler a enxugar gelo se não forem revistas as regras que impõem a alta contínua de desembolsos obrigatórios”, analisou o texto.
A Folha diz ainda que as “juras de responsabilidade” do mandatário, desmentidas por outras declarações e, sobretudo, por atos, não merecem maior consideração.
“Lula ainda governa como se desfrutasse da fartura circunstancial de recursos de seus primeiros dois mandatos”, critica o jornal.
Fonte: Revista Oeste