Presidente mostra que é possível ficar quase dois anos no seu cargo sem fazer nada de útil
É possível que um presidente da República passe quase dois anos no seu cargo sem fazer nada de útil para o país que preside – nada mesmo, no sentido aritmético da palavra? Não é fácil, mas também não é impossível. É o caso do presidente Lula nesta sua terceira passagem pela Presidência. O meio mais simples de demonstrar que a afirmação acima não é uma opinião, e sim um fato objetivo, é colocar uma pergunta direta para o público em geral: alguém consegue citar alguma realização concreta do seu governo até agora? Não duas ou três — apenas uma, uma única que seja? Ninguém consegue. Nem Lula.
Não vale, é claro, ficar inventando uma obra imaginária. Os admiradores do presidente, em estado de inanição avançada por falta dos nutrientes que vêm das notícias positivas, repetem o tempo todo que o governo Lula está sendo um sucesso no controle da inflação. Mas isso é obra exclusiva do Banco Central que ele acusa, desde o seu primeiro dia na Presidência, de ser o pior inimigo do povo brasileiro por sua mania de cuidar direito da moeda. O resto das suas realizações é mais ou menos a mesma tristeza.
Falam, por exemplo, no investimento estrangeiro. Cada um, aí, chuta o número mais alto que lhe passa pela cabeça — um dos mais cômicos é “US$ 300 bilhões”. Naturalmente, o problema é encontrar, na vida real, onde estão fisicamente estes bilhões todos, e pela excelente razão de que eles não existem. Falam, como se isso fosse um novo milagre econômico, que o crescimento vai ser de “3%” neste ano. Mas o crescimento em 2022 foi de 2,9%. Como fica, então: um aumento de 0,1% é a grande vitória de Lula? A agência Moody’s promoveu o Brasil ao grau Ba 1, e acham que é quase uma medalha de ouro. Mas não é. Não é nem bronze.
Lula é “especialista” em campo de batalha
Lula e os que acreditam nele, ou se consideram democratas civilizados, não querem abrir a janela de casa para ver o que está acontecendo lá fora. Preferem olhar para o espelho da Rainha Má e ouvir que não existe nada mais bonito do que eles nesse mundo. É muito mais cômodo, com certeza. Janja diz que ele está brilhando, os ministros se ajoelham para pedir a benção e os analistas analisam, mas nada disso resolve as coisas no universo das realidades.
Lula, para se ficar no último capítulo da sua minissérie, acaba de levar um nocaute humilhante nas eleições para prefeito. Poderia ter perdido só por pontos, mas na sua mania de grandeza cada vez mais extremada, inventou de dizer que a eleição era entre ele e Bolsonaro — aí deu o queixo para bater, e foi para a lona. Perder é do jogo, claro; nem o Real Madrid ganha todas. Mas essa é uma derrota que traz dentro de si a semente de outra derrota. É o que em geral acontece, quando você perde e não sabe por quê.
Lula nunca foi tão Lula, nessa história, quando deu a sua sentença sobre o que aconteceu — segundo ele, a culpa pelo fracasso na eleição, em última análise, foi do PT. O partido, em seu entender, tem de fazer um ato de contrição, “repensar” sua conduta e não pecar mais. Em nenhum momento, nem por um segundo, passou pela sua cabeça que o resultado eleitoral tem alguma coisa a ver com o que ele fez, e sobretudo não fez, em seus 22 meses de governo. Seu desempenho é show de bola — quem faz ele perder a eleição é o PT.
Lula é um grande especialista em ir para o campo de batalha, depois que o combate acabou, para atirar nos feridos. Não apareceu para lutar na campanha. Dos 5,5 mil municípios que há no Brasil foi a 22 — e perdeu em 16. Na última semana, conseguiu ir para o México com a mulher, enquanto os seus candidatos estavam levando chumbo na reta de chegada do primeiro turno. Quando apareceu, foi para dizer que o problema é o PT. É como se dissesse: “Só eu trabalho nessa casa”. Mas e ele mesmo — está fazendo o que?
Numa hora dessas, justo numa hora dessas, o presidente vem e diz, como se estivesse carregando pedra num campo de trabalhos forçados, que não aguenta mais viajar no seu jato privativo; acha, inclusive, que está correndo risco de vida, e por isso os brasileiros vão ter de pagar um avião novo. Não deve sair por menos de US$ 100 milhões. Com os lençóis de linho egípcio e os outros itens essenciais para as exigências de conforto do primeiro casal, como é de se esperar, só Deus sabe onde vai bater essa conta.
Mesmo deixando de lado a absoluta inutilidade das viagens presidenciais em volta do mundo, que até hoje não renderam uma única caixinha de chicletes para os brasileiros que pagam a despesa toda, fica a pergunta que não vai calar: faz sentido, num país onde a maioria da população mal tem onde cair morta, e o governo diz a cada cinco minutos que não tem um tostão furado no caixa, gastar essa montanha de dinheiro com um novo avião para o presidente? O grande argumento de Lula é que o avião não vai ficar para ele, e sim para a presidência. Que sorte a nossa, não?
A Força Aérea Brasileira, hoje transformada em empresa de taxi aéreo privada de Lula, Janja e os gatos gordos do governo, diz que a compra é necessária — justo na hora em que os brigadeiros-do-ar pretendem socar para cima do pagador de impostos uma nova estatal, desta vez para lançar foguetes no espaço em parceria com Elon Musk. A moral da história, ou o resumo da ópera, pode ser o seguinte: a única obra visível do Lula-3 periga ser a compra de mais um Aerolula. É cuesta abajo, como no tango de Gardel.
Fonte: Revista Oeste