Para estatístico, os aumentos diários na quantidade de mortes têm o ritmo de um metrônomo, em uma regularidade que não se encaixa em qualquer guerra
Um estudo da Universidade da Pensilvânia levantou as informações fornecidas pelo grupo terrorista Hamas, sobre o número de mortos na atual guerra em Gaza.
A análise foi realizada pelo professor Abraham Wyner, de estatística e ciência de dados da Wharton School of Business (da Universidade da Pensilvânia). Ele é ph.D. em estatística pela Universidade Stanford, na Califórnia.
A conclusão do trabalho é que os dados fornecidos pelo grupo terrorista, por meio do chamado Ministério da Saúde de Gaza, são “adulterados ou completamente falsos”. A Universidade da Pensilvânia está entre as dez mais importantes dos Estados Unidos, no QS USA University Rankings
Isso não quer dizer que a morte de um cidadão inocente nem sequer é justificável. O que ele afirma, no entanto, é que a quantidade declarada tem alto grau de inconsistência.
O primeiro ponto incoerente nos boletins do Hamas, segundo Wyner, é que o total de mortes relatadas aumenta em média 270 por dia, um acréscimo diário de cerca de 15%. Segundo ele relatou ao The Jerusalem Post, tal situação é estatisticamente impossível:
“Deveria haver dias com o dobro da média ou mais e outros com metade ou menos.”
Para ele, esses aumentos têm o ritmo de um metrônomo, em uma regularidade que não se encaixa em qualquer guerra.
“O gráfico do total de mortes por data aumenta com uma linearidade quase metronômica.”
Ele diz que, em função da natureza da guerra, devem ser observadas variações nos totais diários de mortes de crianças e mulheres, mas que mantenham o porcentual geral relativamente estável.
“Consequentemente, nos dias em que há muitas vítimas mulheres, deverá haver um grande número de vítimas crianças, e nos dias em que apenas algumas mulheres foram mortas, apenas algumas mortes de crianças deverão ser constatadas”.
No entanto, o professor ressalta para o jornal que há uma total falta de correlação. Os dados fornecidos pelo Hamas mostraram contradições, o que, segundo Wyner, deve ser um sinal importante de que os números foram falsificados.
A terceira grande evidência de falsificação, diz ele, é que deveria ocorrer uma forte correlação entre as mortes de mulheres e homens.
Mas, ressalta o professor, o que tem ocorrido nas estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde de Gaza é que há uma relação inversa. Pelos boletins do Hamas, muitas vezes, são relatados quase nenhuma morte de homens e um alto índice de morte de mulheres.
“Se esses fossem apenas erros de notificação, então nos dias em que a contagem de mortes dos homens parece estar errada, a contagem das mulheres deveria ser típica, pelo menos em média”, afirma o professor Wyne.
“Mas acontece que houve três dias em que a contagem dos homens foi perto de zero, sugerindo um erro, mas a contagem de mulheres foi alta. Na verdade, as três maiores contagens diárias de vítimas femininas ocorreram nesses três dias.”
“Embora a evidência não seja definitiva, é altamente sugestiva de que um processo desconectado ou vagamente conectado à realidade foi usado para relatar os números”, diz ele.
Críticos equiparam números do catedrático aos do Hamas
Para Wyner, interesses do grupo terrorista devem ter determinado a divulgação dos números.
“Muito provavelmente, o ministério do Hamas estabeleceu arbitrariamente um total diário”, conclui.
“Sabemos disto porque os totais diários aumentam de forma demasiadamente consistente para serem reais. Depois disseram que cerca de 70% do total das mortes é de mulheres e crianças, dividindo esse montante aleatoriamente de dia para dia. Depois preencheram o número de homens conforme definido pelo total predeterminado. Isso explica todos os dados observados.”
Em outras palavras, ele vê uma total desconexão no fato de que o Hamas afirma que 20% das mortes são de combatentes e 70%, de mulheres e crianças.
Nesse sentido, segundo ele, os 10% de homens restantes (completamente fora da proporção populacional) teriam de necessariamente, em grande maioria, pertencer ao Hamas, o que não ocorre, para completar 100% da população.
O relatório de Wyner recebeu algumas críticas, como a do biólogo computacional Lior Pachter. Para ele, o trabalho de Wyner se baseava em todas as mortes notificadas até agora, em vez de apenas no número de mortes notificadas num determinado dia, o que, na opinião de Patcher, criou uma impressão enganosa de regularidade. Também o fato de Wyner utilizar apenas 15 dias de guerra como referência foi motivo de crítica.
Oeste procurou dois professores universitários para entender o porquê de as autoridades, inclusive as brasileiras, confiarem nos números fornecidos por um grupo que cometeu atrocidades e divulgou inúmeras notícias falsas e repletas de terror psicológico, já comprovadas, a respeito das condições dos reféns.
Ambos, no entanto, equipararam os números do Hamas aos de Wyner, especialista da Universidade da Pensilvânia.
“Eu estudo conflitos armados há mais de dez anos”, afirmou um deles. “E da mesma forma que se criticam os números fornecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas, basear-se numa métrica, num estudo que confirma uma determinada crença não é seguro.”
Outro afirma que “é possível sim você ter ali números que não batem, você precisa checar esses números, agora esse estatístico que você coloca também não é dono da verdade.”
Wyner, no entanto, mantém sua convicção, inclusive por sua condição de estatístico especializado nesse tipo de cálculo.
“A verdade ainda não pode ser conhecida e provavelmente nunca será”, conclui ele. “Mas a contagem total de vítimas civis provavelmente será extremamente exagerada”.
Fonte: Revista Oeste