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PIB do agronegócio experimenta redução de 4,28% até setembro

As perdas nos volumes produzidos ao longo do ano e a alta vigorosa dos custos de produção, em intensidade quase seis vezes maior do que o incremento esperado para as receitas faturadas pelo setor, devem reduzir a influência do agronegócio sobre a formação do Produto Interno Bruto (PIB) de toda a economia em 2022. Medido sob o conceito de renda, na definição estabelecida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em colaboração com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio acumulou retração de 4,28% nos nove primeiros meses deste ano em relação a igual período do ano passado.

Sob a ótica adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera a variação do volume de bens e serviços produzidos em toda a economia, o dado retornou ao terreno positivo neste ano, depois de ter experimentado recuos nos dois últimos anos. Essa relação, no entanto, não traduz integralmente o cenário observado pelo centro de estudos da Esalq e pelo IBGE, que sugere uma contribuição relativamente modesta do agronegócio na composição do PIB brasileiro como um todo.

Como já divulgado, o PIB do agronegócio em volume havia registrado baixa de 1,63% em 2020, sofrendo redução ligeira no ano seguinte. Na prática, com recuo de 0,14%, o PIB do setor literalmente não saiu do lugar num momento em que a economia como um todo registrava alguma reação frente aos níveis muito reduzidos alcançados em 2020, quando as medidas mais duras de restrição a aglomerações e de distanciamento social tiveram duro impacto sobre a atividade econômica.

Para comparação, o PIB em todo o País havia sofrido baixa de 3,28% em 2020 e avançou 4,99% um ano depois, fechando o período em níveis muito próximos daqueles observados no segundo e terceiro trimestres de 2014, quando o PIB crescia a uma taxa acumulada em 12 meses próxima de 0,75%. Ao longo desses dois anos, como indicam os dados do Cepea e do IBGE, sempre em termos de volume, a contribuição do agronegócio na formação do produto nacional foi negativa ou praticamente nula.

Fôlego contido

Neste ano, a tendência parece se confirmar e o agronegócio, da mesma forma, tem demonstrado certa incapacidade para acompanhar o desempenho geral da economia. No dado mais recente divulgado pelo IBGE, o PIB brasileiro apresentou variação de 3,23% na comparação entre os valores acumulados entre janeiro e setembro deste ano e idêntico período do ano passado. Mas o agronegócio, na contabilidade do Cepea e da CNA, registrou variação de 0,78%, numa combinação de queda de 0,58% para o ramo agrícola (incluindo os setores de produção primária, insumos, indústria e agrosserviços de base agrícola) e de alta de 4,73% para o ramo pecuário. Com exceção dos insumos destinados à pecuária, que anotou baixa de 1,75%, os demais segmentos associados à criação de animais acumularam números positivos, com destaque para os serviços e agroindústria dedicada à produção de proteínas animais, que cresceram, pela ordem, 7,41% e 7,05%. Da porteira para dentro, a pecuária avançou modestamente, numa variação de 1,57%.

Balanço

  • Ainda considerando os volumes produzidos, a redução no setor agrícola recebeu influência maior da retração de 2,44% registrado da porteira para dentro, com queda na produção de soja e cana principalmente, mas quebra também nas lavouras de arroz, batata, mandioca, tomate e uva, além de perdas para fumo e madeira em tora, conforme o Cepea.
  • Os serviços prestados à agricultura, por sua vez, recuaram 0,44%, enquanto a agroindústria de base agrícola praticamente manteve os volumes produzidos, com ligeira elevação de 0,17% no PIB do segmento. De toda a forma, o maior consumo de insumos ajudou o setor a crescer 4,20% (novamente em volume).
  • No conceito de renda, tradicionalmente adotado pelo Cepea, as perdas têm sido mais severas em função principalmente do salto nos custos de produção. De acordo com o centro de estudos, “considerando-se a média ponderada das diversas culturas acompanhadas, espera-se aumento real de 9,52% do faturamento anual agrícola; já para o custo com insumos, estima-se aumento expressivo de 53,3%”. Vale dizer, um salto quase seis vezes maior do que a variação esperada para o faturamento.
  • Nessa mesma ótica, os resultados têm sido negativos praticamente desde setembro do ano passado, no acompanhamento mensal realizado pelo Cepea. Na verdade, houve perdas em 11 dos 13 meses entre setembro de 2021 e igual mês deste ano, com reduções em sequência desde abril deste ano.
  • No terceiro trimestre deste ano, a renda bruta do agronegócio registrou queda de 2,08% em relação ao mesmo período de 2021, com baixas de 3,74% no setor primário, de 2,27% para o setor de agrosserviços e recuo de 0,80% para a agroindústria. O setor de insumos, favorecido pela elevação dos custos, apresentou avanço de 2,78%.
  • No acumulado do ano até setembro, comparado aos mesmos nove meses de 2021, conforme já registrado, o PIB do setor encolheu 4,28%. Aqui, o papel do setor primário foi decisivo, já que o segmento encolheu nada menos do que 11,93%, registrando maior impacto do salto nos custos dos insumos. Não por coincidência, a indústria fornecedora de insumos e a rede de distribuição dos mesmos produtos ao campo apresentaram salto de nada menos do que 25,33% em relação aos nove meses iniciais do ano passado.
  • Os setores da agroindústria e de serviços associados ao agronegócio registraram perdas de 0,79% e de 5,17% respectivamente, ajudando a afundar o faturamento de todo o agronegócio.
  • A agricultura e a pecuária apresentaram resultados um tanto discrepantes, com retração de 5,69% no primeiro caso e modesto recuo de 0,24% no segundo. O setor de insumos pecuários anotou baixa de 5,51%, compensada pelo salto de 37,79% no segmento de insumos agrícolas, sob influência dos preços muito mais altos do que em 2021. O setor primário fechou o período com retração de 20,08% na agricultura, mas com elevação de 5,74% na pecuária.
  • Ainda considerando a renda gerada pelo setor, num horizonte mais amplo no tempo, o agronegócio observa o mesmo processo de desmonte da indústria que tem vitimado o setor industrial em todo o restante da economia. Entre 1996 e 2021, a participação da agroindústria no PIB do agronegócio despencou de 12,08% para 6,22%, perdendo 5,86 pontos percentuais.

Fonte: Jornal O Hoje

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