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Recorde de receita representa embaraço para governo Lula, diz Folha

Tesouro recebe maior valor real da história em tributos, mas fecha no vermelho

Alta dos gastos do governo Lula precisa ser contida | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Fossem outras as circunstâncias, o recorde de arrecadação tributária contabilizado em 2024 seria lido como uma vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua equipe. No atual contexto, porém, o resultado não vem sem embaraços para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o que afirma o jornal Folha de S.Paulo em editorial desta quarta-feira, 29.

Os números impressionam. Em valores corrigidos pela inflação, a União coletou R$ 2,709 trilhões em impostos, contribuições, taxas, royalties e outras fontes, um salto de 9,6% — ou R$ 238 bilhões, suficientes para pagar quase um ano e meio de Bolsa Família — em relação ao ano anterior.

Maior da história em termos reais, a arrecadação foi equivalente a 22,46% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado, patamar que só havia sido atingido ou superado em alguns momentos da primeira década do século, quando o país vivia um momento excepcional devido ao boom global de preços de produtos primários.

“Por esse aspecto, o recorde é divulgado em momento politicamente delicado para o governo Lula, ainda às voltas com a péssima repercussão de uma medida para elevar o controle de transações por meio do Pix”, diz a Folha.

“Mais grave, a cifra excepcional escancara o fracasso da estratégia petista de equilibrar o Orçamento exclusivamente com o aumento de receitas, sem conter a alta contínua das despesas”, acrescenta. “Afinal, nem a arrecadação histórica bastou para cobrir os gastos com pessoal, custeio administrativo, programas sociais e investimentos.”

Déficit primário do governo Lula deve ficar perto de R$ 40 bi

O Tesouro Nacional deve apurar um déficit primário (excluindo encargos com juros da dívida) perto dos R$ 40 bilhões no ano passado.

“Daqui para a frente, o cenário deve ser bem mais difícil”, avalia o jornal. “Algumas das receitas de 2024 tiveram caráter extraordinário e devem se reduzir; a busca de mais recursos será obstruída pela campanha da oposição à direita contra a sanha arrecadatória de Lula; a disparada dos juros, consequência da gastança, tende a limitar a expansão da economia.”

“É correta e justa a estratégia de rever privilégios tributários para setores influentes —multiplicados, aliás, em gestões petistas anteriores”, acrescenta. “É ilusório, porém, imaginar que elevar uma carga já excessiva resolverá o grave desequilíbrio das contas do Tesouro. A arrecadação precisa ser mais bem distribuída, não maior.”

Fonte: Revista Oeste

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