Nascido em Roraima, o Grupo BBF desenvolve áreas isoladas, gerando soluções que deixam o mundo melhor
Em sua primeira visita a Roraima em 2002, Milton Steagall percebeu que um imenso potencial estava sendo desperdiçado. Poucos anos depois, o empreendedor escolheu o Estado para ser sede do Grupo BBF (Brasil BioFuels). CEO da companhia, ele comemora os 15 anos da empresa neste mês de abril, que se tornou o maior produtor de óleo de palma da América Latina e promove uma verdadeira revolução a partir da indústria verde na Região Norte do Brasil.
“Quando visitei Roraima pela primeira vez, percebi todo o potencial que a Região Norte possui e não era valorizado”, declarou o CEO do Grupo BBF. “Existe uma imensidão de área habitada com 30 milhões de pessoas morando sobre ela. Há cidades grandes, como Belém e Manaus, com emprego e indústria. Mas o interior precisa e pode gerar empregos. Roraima, por exemplo, ainda vive do Fundo de Participação da União, mas tem tudo para se desenvolver: área, solo, água e 600 mil habitantes querendo melhorar de vida.”
O empreendedor se dedicou a entender as vantagens e desvantagens da área. Como resultado, as dificuldades viraram oportunidades. “Começamos atendendo às demandas produzindo no local”, explicou Steagall. A estratégia envolve um processo verticalizado, que começa na formação da muda, passa pelo cultivo da planta, além da extração do óleo, e chega até o produto final. “Plantar, colher e consumir na Região”, resumiu.
Inicialmente, a missão era substituir o óleo diesel fóssil poluente por biodiesel renovável na geração de energia elétrica. Passados 15 anos dos primeiros passos, o Grupo BBF desenvolveu um mix que se estende para produtos vendidos a outras partes do país – e vão além da produção de energia renovável.
Nascido para preservar
O Grupo BBF começou a plantar suas primeiras mudas de palma de óleo em 2008, em Roraima. Quando essas operações tiveram início, o Brasil inteiro tinha apenas 70 mil hectares de área cultivada com a planta, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Hoje, somente o cultivo da companhia na Região Norte abrange uma área maior: 75 mil hectares – que representam por volta de 40% de todas as lavouras dedicadas à cultura no país.
Esse crescimento veio acompanhado de preservação ambiental, um valor que faz parte do DNA da empresa. O plantio nacional é regrado por lei – o Decreto 7.172 de 2010, do Governo Federal, que estabeleceu o Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo. A elaboração dessa legislação contou com um robusto estudo conduzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O levantamento definiu as áreas para desenvolver a cultura de forma sustentável no país.
Cada hectare com permissão para as lavouras foi demarcado por imagens de satélite, georreferenciadas, em terras que foram degradadas até dezembro de 2007. Ou seja: antes mesmo do plantio do Grupo BBF ter início. Desse modo, o cultivo feito hoje protege e recupera a Floresta Amazônica. Por volta de 30 milhões de hectares estão aptos a abrigar o cultivo de palma de óleo no Norte do Brasil. A capacidade de produção de toda essa terra equivale a um “pré-sal verde”.
Steagall expressa o orgulho do Grupo BBF com o modelo de manejo adotado. “As áreas voltam a ter um bioma integrado, com sombra para os pássaros e outros animais que começam a habitá-las por se sentirem protegidos”, comentou. Além disso, as plantações demandam muita mão de obra humana, criando condições para quem vive na região se manter.
Da semente ao megawatt
A planta começa a dar os frutos necessários para a produção do óleo de palma no quarto ano de cultivo. No segundo ano de existência, 2009, o Grupo BBF adquiriu sua primeira estrutura para produção de biodiesel, em Ji-Paraná, Rondônia.
Em 2010, começaram os preparativos da empresa para ingressar no setor elétrico por meio dos Sistemas Isolados. Esses locais são de acesso difícil e não estão conectados ao Sistema Interligado Nacional. Desse modo, eles precisam de geradores próprios para abastecer sua demanda por eletricidade.
Seis anos depois, a empresa começou a operar usinas termelétricas em Rondônia e no Acre com o biodiesel feito à base de óleo de palma. Anteriormente, o fornecimento de energia utilizava o diesel fóssil – um produto poluente, que dá origem à chuva ácida, é mais caro e não gera empregos na Região.
Nos anos seguintes, o Grupo BBF expandiu suas operações pelo Norte do Brasil. Hoje, a empresa atua em cinco Estados (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima). Atualmente, são 25 usinas termelétricas em funcionamento e outras 13 em construção. A capacidade de geração de energia instalada já está em 86,8 megawatts.
A cadeia produtiva verticalizada do Grupo BBF, que vai da semente ao megawatt, gera energia elétrica limpa para distribuidoras que atendem mais de 140 mil clientes na região amazônica. A produção atual é de 200 mil toneladas de óleo de palma por ano, e a empresa possui capacidade de produzir mais de 64 milhões de litros de biodiesel anualmente. Dentro desse ciclo, existem mais de 6 mil empregos diretos e mais de 18 mil indiretos, renda e incentivo para 400 famílias por meio do Programa Agricultura Familiar. A área de cultivo da empresa estoca cerca de 25 milhões de toneladas de carbono na Amazônia.
O trabalho sério tem sua qualidade reconhecida por diversas certificações. Entre elas, as que atestam a preservação ambiental, a responsabilidade social e, até mesmo, o respeito a padrões religiosos, como a certificação kosher (indispensável para os judeus) e halal (fundamental para os islâmicos).
Transformando vidas
Em São João da Baliza, Roraima, fica a sede do Grupo BBF. No município com aproximadamente 8 mil habitantes, a companhia possui todas as fases da operação de sua cadeia integrada. A geração de empregos estampa o desenvolvimento local. Em janeiro de 2008, a cidade tinha menos de 250 empregos formais. De acordo com o Ministério do Trabalho, hoje são quatro vezes mais postos com carteira assinada pelo Grupo BBF, que é o maior empregador da região.
“Na primeira vez que estive aqui, era comum eu ouvir que não tinha nada, mas eu dizia: aqui tem tudo para gerar prosperidade”, comentou Steagall, ao falar do impacto da empresa. “Minha vontade de desenvolver esse lugar era imenso. Isso me remete a uma questão que é fundamental para a sociedade humana: fraternidade. Encontrei grandes companheiros para suprir o que me faltava. Juntos, transformamos esse lugar.”
Os benefícios levados pelo Grupo BBF não se resumem somente a criação de empregos e a preservação ambiental. A qualidade de vida nas comunidades isoladas também mudou.
Atualmente, são milhares de famílias que, além de terem eletricidade para aparelhos como chuveiros, geladeiras e ventiladores, também podem se conectar com o resto do mundo com seus computadores e smartphones graças ao trabalho da companhia.
O pastor Davi Félix Cecílio mora em Belém dos Solimões (AM), uma das localidades atendidas pela empresa. Ele comemorou o fim da falta de energia com a chegada do Grupo BBF. “Agora, a minha comunidade melhorou bastante”, declarou. “Antes, tinha queda de energia. Hoje, o fornecimento está um show de bola, nota dez.”
15 anos à frente
A empresa segue aumentando o fornecimento de energia renovável para comunidades isoladas. Com o sucesso alcançado na primeira missão, contudo, o Grupo BBF começou a trilhar novos caminhos.
Um dos exemplos é a biorrefinaria em construção na Zona Franca de Manaus, no Amazonas. Por meio dessa estrutura, serão produzidos diesel verde (HVO) e o Combustível Sustentável de Aviação (SAF). O projeto deve somar R$ 2,2 bilhões em investimentos e conta com a parceria da Vibra – antiga BR Distribuidora.
O SAF é a virada de chave para a descarbonização das empresas aéreas. E o HVO é um combustível verde e renovável que pode substituir o diesel fóssil poluente sem que a frota atual de veículos precise passar por adaptações.
Além disso, o Grupo BBF se lançou em uma empreitada fora do ramo de combustíveis e energia: A BBF BioTech. A marca nasceu com o propósito de oferecer uma alternativa sustentável à atividade petroquímica. O mix engloba insumos renováveis para atender indústrias como a de cosméticos e de higiene e limpeza, sendo capaz de suprir demandas de diversos outros ramos.
O ganho de valor agregado é de cerca de dez vezes sobre o preço pago pelo óleo bruto. O insumo é vendido para a indústria de cosméticos por cerca de R$ 60 o quilo. Uma excelente combinação entre sustentabilidade e novas tecnologias. A marca nasceu com uma exclusiva linha de produzida a partir de óleos vegetais, criados por meio de pesquisas realizadas em parceria com duas das principais universidades do país: Unicamp e USP.
“O Grupo BBF se tornou o que eu via 15 anos atrás”, declarou o CEO Milton Steagall. “Eu segui o projeto acreditando no íntimo da minha alma que ele era possível. Hoje, milhares de pessoas compartilham dessa obra, levam para casa muito mais que um salário: dignidade.”