Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tenta conseguir cargos e emplacar aliados no governo petista, o presidente Lula está resistindo e evitando um contato direto com Lira. Lula, que só quer negociar ministérios com vistas à sucessão de Lira, opera uma guerra de nervos com o líder do centrão, diz a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Os pedidos mais recentes de Lira — depois de ver recusada a tentativa de abocanhar o Ministério da Saúde — são a presidência da Caixa e mais um ministério, de preferência o do Desenvolvimento e Assistência Social.publicidade
Já há até nomes para ocupar os cargos: a ex-deputada federal Margarete Coelho (PP-PI), para o banco estatal, e o deputado André Fufuca (PP-MA), a quem caberia o ministério, ambos aliados incondicionais de Lira.
Durante o recesso, apesar de muita conversa com o presidente da Câmara, o acordo não foi selado. Lula resiste em ceder qualquer cargo ao centrão, informa a coluna. Por isso, Lira convocou os líderes partidários na terça-feira 1º para dizer que não colocará nada em votação na Câmara enquanto não negociar com o governo. A coluna afirma que, segundo auxiliares, Lula se irritou. Mas, em público, fez pouco caso.
Aliás, em público, repetiu que “o centrão não existe”, dando um recado claro de que pretende negociar com os partidos, e não com o chefe do centrão, ou conforme as palavras de Lula, com “esse amontoado que vocês chamam de centrão”. Apesar disso, Lira continua dando as cartas, e Lula acumula derrotas.
Desde a posse de Lula, no começo do ano, o Planalto, ciente da derrota, nem ao menos lançou um candidato alternativo para não pôr em risco a aprovação da PEC da Transição. De lá para cá, mesmo liberando bilhões em emendas, não conseguiu impedir a criação das CPIs do 8 de Janeiro e do MST e foi derrotado na tentativa de mudar o marco do saneamento.
Essa mudança de postura de Lula faz parte da estratégia do governo para conseguir colocar na presidência da Câmara em 2025 um aliado e alijar Lira e o centrão. Segundo a coluna de Malu Gaspar, nos bastidores, auxiliares próximos de Lula não escondem que a escolha dos novos ministros levará em conta a sucessão de Lira.
Apesar de não poder mais disputar a reeleição, Lira planeja fazer um sucessor, o que poderia garantir seus planos políticos. Se ficar relegado ao “amontado”, dificilmente conseguiria disputar uma vaga no Senado por Alagoas em 2026, especialmente considerando a força política do desafeto Renan Calheiros, pai do ministro dos Transportes e aliado histórico de Lula.
Consciente dos planos de Lula para pôr um aliado na presidência da Câmara, Lira já mandou seu recado ao presidente. No programa Roda Viva da última segunda-feira , o presidente da Câmara disse que sua sucessão na Câmara não está aberta. “O primeiro que botar a unha de fora vai arrumar problema comigo, porque eu nunca fiz isso com ninguém, não é justo. Nós ainda temos um ano e seis meses para o fim do mandato de presidente da Câmara. Nós vamos exercer.”
E deixou claro que quem garante os votos do PP para as pautas de interesse do governo é ele, Lira, e não Ciro Nogueira, presidente do partido.
Fonte: Revista Oeste