Um bando de gente “progressista”. Essa é a imagem que vem à mente, quando citada a expressão “classe artística”. O ator Malvino Salvador, ex-Globo, é uma exceção. “Nunca fui de esquerda”, garantiu, em entrevista à Revista Oeste.
Para justificar a sua posição ideológica, Salvador lembrou do passado difícil que teve em Manaus. Na capital do Amazonas, ele trabalhou como contador, vendedor de loja e até estagiário do Banco do Brasil, antes de consagrar-se no papel de Tobias, um dos protagonistas da novela Cabocla, lançada em 2004.
“Tenho uma cabeça diferente”, assegura Salvador, ao revelar que votou no ex-presidente Jair Bolsonaro, na eleição de 2022. “O artista não enxerga o ambiente fora dele. Tudo o que entra de fora, ele não consegue absorver e entender. É uma bolha.” Salvador relata ainda que há muitos artistas conservadores, mas que se calam, em virtude do medo do cancelamento.
Como é trabalhar e conviver num meio em que a massa pensa radicalmente o oposto do senhor?
Tenho muitos amigos pessoais na Globo, de esquerda, e me dou muito bem. Mas, de uns tempos para cá, vejo que há um medo, um receio de artistas que pensam diferente. Não existe um pensamento único no meio, mas aqueles que estão mais ligados à direita não têm mais o costume de falar o que pensam. Acredito que seja pelo receio de sofrer boicote. Nos últimos anos, quem pensa parecido comigo se calou. Não consigo deixar minhas posições de lado. Exerço meu papel e tenho a minha liberdade. Não posso viver prisioneiro, porque penso de uma forma e não posso falar aquilo que acredito.
No que o senhor acredita?
Sou a favor da liberdade de expressão, da liberdade de ir e vir, da livre-iniciativa, da desburocratização do Estado. A esquerda quer que o Estado seja realizador de tudo. Sou a favor do enxugamento da máquina pública, porque as estatais existem para manter partidos no poder. Sou a favor de diminuir os impostos, porque assim você fomenta o comércio e os serviços e gera emprego. Só olhar os países que seguiram isso e deram certo. Já os que não seguiram… Veja o caso da Venezuela: a petrolífera PDVSA chegou a ser uma das maiores do mundo, gerou riqueza para a nação. Quando Hugo Chávez assumiu, tudo mudou. A cartilha que ele seguiu foi a de usar o petróleo para financiar o socialismo. Colocaram na petrolífera uma responsabilidade que não deve ser dela. Foi a derrocada do país: empresários passaram a fugir de lá, a liberdade foi sucateada. Tudo o que a gente começa a ver no Brasil atual. Tem de tomar cuidado. O processo para virar uma Venezuela é rápido. Nossa classe política, o Congresso Nacional, precisa ficar atenta para ser um contraponto. Nossas liberdades estão sendo tolhidas, isso é péssimo. Como cidadão brasileiro, estou preocupado.
Por que os artistas são praticamente todos de esquerda?
Porque o movimento de esquerda, especialmente nas atividades ligadas a humanas, vem sendo construído desde a faculdade. A classe artística sempre foi ligada à esquerda. A gente trabalha com dramaturgia, fala do drama. A gente não fala muito do sucesso. O ator se comove com a dor, com os mais necessitados. Pensadores da dramaturgia sempre foram de esquerda. Eu, sinceramente, nunca fui de esquerda.
Essa campanha de desinformação foi feita pela imprensa?
A grande imprensa escolheu um lado. Acho que a função do jornalismo é a isenção. A imparcialidade tem de estar ali. Pode até ter lado, mas tem de dizer o lado que segue. Não tenho visto isso. Antes existiam jornais impressos, com pluralidade de ideias, um ou outro com viés mais à esquerda. Hoje, não. É uma unicidade de pensamento à esquerda, e o jornal continua dizendo que é imparcial.
Fonte: revista Oeste