O agronegócio brasileiro obteve uma vitória no cenário internacional. Auditoria realizada pela Peterson constatou que a produção de algodão no Brasil, sobretudo no cerrado baiano, segue as normas estabelecidas por organismos internacionais. O resultado da análise foi divulgado nesta terça-feira, 23.
A inspeção se deu depois de denúncia, sem apresentação de provas nem indícios, por parte da organização não governamental (ONG) Earthsight. Há duas semanas, a ONG, que foi fundada em 2007 e é baseada em Londres, acusou a cotonicultura (cultivo de algodão) nacional de ser responsável por crimes ambientais.
De acordo com a denúncia, parte da produção de algodão no oeste da Bahia, no bioma cerrado, estaria relacionada a problemas como desmatamento, grilagem e poluição. Oprimir comunidades por onde a atividade agrícola avança também foi outra acusação feita pela ONG britânica.
A denúncia cita diretamente quatro empresas. No conteúdo que a Earthsight chamou de “relatório”, a SLC Agrícola e o Grupo Horita são mencionados como personagens centrais suspostamente envolvidos nos problemas de produção no cerrado baiano. Já a varejista sueca H&M e a Inditex (dona da marca Zara) seriam algumas das compradoras do que a ONG classificou como “algodão sujo”.
Depois de acusar produtores de algodão brasileiros e grifes internacionais, a denúncia da Earthsight caiu por terra. Com validação da Better Cotton, organização de referência que acompanha e certifica a cotonicultura no âmbito internacional, a auditoria independente feita pela equipe da Peterson foi categórica. De acordo com os trabalhos de inspeção, não há evidências contra os produtores do país.
Em seu site oficial, a Better Cotton respondeu ponto por ponto as acusações propagadas pela ONG britânica.
“A auditoria independente da Peterson não encontrou nenhuma relação entre as acusações da Earthsight relacionadas ao impacto na comunidade e as três fazendas que produzem Better Cotton e, portanto, nenhuma violação dos padrões.”
“No que diz respeito às violações de direitos fundiários, a auditoria constatou que as fazendas em questão estão integralmente cadastradas no Cadastro Ambiental Rural, banco de dados autodeclarativo de propriedades rurais, e, portanto, atendem à norma. As fazendas também são certificadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Portanto, o uso e a conversão de terras para cultivo de algodão nessas fazendas atendem à legislação nacional.”
“Em relação ao desmatamento, o relatório refere-se a multas relativas a anos anteriores às fazendas começarem a trabalhar com Better Cotton. Não há áreas atualmente sob embargo.”
“Não há evidências da pulverização ilegal de pesticidas conforme alegado pela ONG. Os embargos à pulverização foram levantados em 2018, pelo que as pulverizações aéreas destacadas no relatório eram legais. A denúncia não forneceu provas objetivas de que as explorações agrícolas aplicaram pesticidas em violação do distanciamento legal.”
Players da produção brasileira de algodão se manifestaram depois do resultado da auditoria que contou com validação da Better Cotton. Em comunicados, associações do setor reforçaram o trabalho desenvolvido pelos cotonicultores do país.
“Temos certeza que o produtor brasileiro sairá fortalecido deste evento e que seguirá com seus firmes propósitos de melhorias constantes na qualidade de sua produção, respeito ao meio ambiente, aos colaboradores e ao entorno social”, afirmou a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão. “Seguimos firmes e parceiros no caminho rumo à liderança no mercado internacional do algodão.”
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel, foi outro a comemorar o resultado da auditoria. Ele, contudo, reclamou das “falsas alegações” promovidas pela ONG britânica.
“A auditoria da Peterson é uma clara justificativa da conformidade das fazendas participantes citadas com os protocolos e uma refutação inequívoca das falsas alegações apresentadas pela Earthsight”, afirma Schenkel. “Esta é agora a segunda auditoria totalmente independente que demonstra a conformidade com os protocolos.”
O representante da Abrapa ainda reforçou ter repassado, previamente, todas as informações e evidências à ONG. Isso, de acordo com ele, ocorreu no ano passado.
“Um dos nossos valores fundamentais é a importância da transparência e da nossa abertura para interagir com todas as partes interessadas, desde a sociedade civil até toda a cadeia de valor”, diz Schenkel. “Foi com esse espírito que nós e as empresas participantes da ABR [sigla para protocolo Algodão Brasileiro Responsável] envolvidas fornecemos à Earthsight no ano passado todas as informações e evidências necessárias para responder às suas preocupações e alegações. Lamentamos que grande parte do nosso contributo tenha sido ignorado na sua publicação.”
Apesar do resultado da auditoria, a ONG Earthsight mantém em destaque de seu site a denúncia contra a cotonicultura brasileira.
Fonte: revista Oeste