Quatro dias depois de o ditador venezuelano fazer grave ameaça ao povo, petista reage em gesto que é fruto de cálculo político
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou quatro longos dias para se dizer “assustado” com o aviso do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, de que haverá um “banho de sangue” caso ele não seja reeleito na votação deste domingo, 28.
Em seu editorial desta quarta-feira, 24, o jornal O Estado de S. Paulo destaca que, enquanto todos os que prezam a democracia já haviam se assustado o “violento repto chavista”, Lula, pelo contrário, não demonstrou o mesmo.
Mesmo diante da indgnação geral provocada pelas falas de Maduro, o presidente brasileiro tinha se limitado a dizer que “eles [os venezuelanos] que elejam o presidente que eles quiserem” — “como se se tratasse de uma eleição como outra qualquer e como se o companheiro Maduro não tivesse feito uma ameaça explícita de guerra civil caso perca no voto”, destaca o Estadão.
Não se sabe exatamente o que aconteceu nesses quatro dias para que Lula subitamente acordasse “assustado” com a perspectiva real da ameaça que representa Maduro.
Na verdade, é muito difícil acreditar que só agora o petista, que sempre festejou a “democracia” chavista, tenha percebido que a Venezuela é uma “feroz ditadura” e que ditaduras, especialmente as ferozes não costumam cair de forma pacífica.
“É lícito supor, portanto, que a mudança de discurso de Lula talvez tenha mais a ver com um cálculo segundo o qual um eventual desfecho violento na Venezuela pode acabar sendo debitado politicamente de sua conta”, afirma o jornal.
A publicação relembra que mais de 100 pessoas morreram na brutal repressão do regime aos protestos de opositores em 2017, no que talvez seja um amargo aperitivo do que pode acontecer agora.
O novo discurso do presidente não mudou em nada a convicção de Lula de que o processo eleitoral venezuelano é realmente justo e livre, a despeito da perseguição a opositores, da censura, da subserviência do Judiciário ao chavismo e das ameaças aos eleitores que ousam não votar em Maduro.
Para o Estadão, o “susto” de Lula recende a farsa. “Desde antes da ascensão definitiva de Maduro ao poder, em abril de 2013, depois da morte de Hugo Chávez, o petista sempre apoiou o regime de Caracas”, diz o jornal.
Lula encara a própria omissão
O jornal Folha de S.Paulo destaca que, para quem insiste em qualificar como democracia o regime autoritário construído por Hugo Chávez e consolidado por Maduro nos últimos 20 anos, a fala de Lula representa um avanço. Mas retórica não basta.
“Na condição de chefe de Estado da maior democracia latino-americana, Lula precisa superar sua omissão histórica diante do recrudescimento do chavismo”, diz o jornal em seu editorial.
Para a Folha, caso Maduro venha a perder, será necessário unir forças com vizinhos da região para “forçá-lo” a respeitar o resultado das urnas e, caso seja vitorioso, não impedir contestações da lisura da eleição.
“Somente o regime — no comando dos aparatos militar, policial e das milícias — detém os meios para promover um ‘banho de sangue’”, afirma o texto.
Fonte: Revista Oeste