Frenesi verborrágico do petista alimenta incertezas e cria armadilha para o próximo chefe do Banco Central, avaliam jornais
Os recentes discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm chacoalhado o mercado financeiro, com estaque para a alta do dólar, e piorado as estimativas para a economia do Brasil. É o que o destacam editoriais dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, o Estadão.
Para a Folha, o presidente decidiu aprofundar o padrão da retórica populista de personificar o interesse do povo, tratado como massa amorfa e incapaz, e acusações contra supostos inimigos de tais aspirações em um recente frenesi de entrevistas e pronunciamentos.
“Eu não sou um presidente da República que está junto do povo”, discursou Lula no último sábado, 29, ao concluir uma longa sequência de autoelogios. “Eu sou o povo que está na Presidência da República deste país por conta de vocês.”
Conforme destaca a Folha, os inimigos da vez são, mais uma vez, o Banco Central (BC) e o mercado financeiro, que estariam envolvidos em uma conspiração para manter os juros altos.
“O que você não pode é ter um BC que não está combinando adequadamente com aquilo que é o desejo da nação”, afirmou o petista na segunda-feira 1º, colocando-se em um pedestal ao falar em nome da nação.
Falas de Lula provocam alta do dólar e pressionam inflação, afirmam Folha e Estadão
A escalada verborrágica dos últimos dias é evidente, destaca a Folha. Nas últimas semanas, foram ao menos oito entrevistas a veículos de comunicação e 13 discursos. Os objetivos, porém, não parecem tão claros, e os resultados são desastrosos.
Somente nesse período, a cotação do dólar saltou 4,7%, segundo a taxa média calculada pelo BC, aproximando-se do patamar de R$ 5,70.
“Sem medir as palavras, chamou de ‘cretinos’ os especialistas que atribuíram um pico na cotação do dólar em parte às dúvidas que ele manifestou sobre a necessidade de cortar gastos, em entrevista ao portal UOL, mesmo diante de um déficit primário de R$ 61 bilhões, o segundo pior desde 1997”, afirma o Estadão.
Além disso, as estimativas de analistas do mercado financeiro para a inflação sobem semana a semana há pelo menos dois meses. Para este ano, a previsão já atinge 4%, ou seja, 1 ponto porcentual acima do centro da meta de 3% e só meio ponto abaixo do teto; para 2025, a projeção é de 3,87%.
E não era para menos: em 16 dias, Lula afirmou que espera o próximo chefe do BC mais alinhamento a seus desejos, desautorizou medidas de controle de despesas públicas aventadas por sua equipe e, na terça-feira 2 disse que o governo fará “alguma coisa” para conter a alta do dólar.
“O presidente anunciou, a quem interessar possa, que o próximo presidente do BC será só um nome no crachá, pois a política monetária será ditada pelo Palácio do Planalto”, avalia o Estadão.
E o mercado tem reagido às incertezas alimentadas por Lula em relação às contas públicas, a autonomia da política monetária e o controle da inflação. Intervir nesse movimento, sem estancar suas causas, será inócuo na melhor das hipóteses, afirma a Folha.
“Em menos de seis meses, Roberto Campos Neto deixará o BC e não servirá mais de bode expiatório para as mazelas da economia”, diz a Folha. “Na toada de hoje, seu sucessor corre risco de assumir em um cenário hostil, de impacto do câmbio na inflação e perda de credibilidade.”
A piora das condições financeiras, cedo ou tarde, chega à produção e ao emprego, e os mais atingidos são os pobres em cujo nome pretende falar o populismo.
“No momento em que se relembra o lançamento do real, que há 30 anos restabeleceu o poder de compra da moeda nacional e abriu caminho para o desenvolvimento maduro do país, é preciso reforçar a mensagem de que o controle da inflação não é uma dádiva da natureza, mas resultado de responsabilidade fiscal – aquela que Lula parece desdenhar”, conclui o editorial do Estadão.
Fonte: Revista Oeste