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Governo Lula se junta, mais uma vez, à facção das ditaduras que apoiam Maduro

A reação à fraude explícita da próxima eleição venezuelana foi atrasada, medrosa e malfeita

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 27 de março de 2024)

Depois de bajular durante um ano e três meses a ditadura e o ditador da Venezuela, o governo Lula, finalmente, resolveu dizer alguma coisa diante da selvageria cada vez mais perversa do regime de seu aliado e amigo. A ditadura que Lula descreve como “democracia” (do tipo relativo) porque tem, segundo ele, “mais eleições que o Brasil”, chegou a um novo fundo do poço em matéria de tirania: proibiu mais uma candidata de disputar as próximas eleições presidenciais. Já tinha eliminado uma outra candidata antes dela, e outros ainda antes, dentro do “apartheid” político permanente da ditadura Chávez-Maduro — assim como na antiga África do Sul os negros não tinham direitos civis, na Venezuela de hoje os cidadãos não têm direito de votar na oposição, e nem de abrir a boca. Foi mais um tapa na cara do Brasil. Maduro tinha prometido ao governo brasileiro, e a outros, que desta vez haveria eleições limpas. Está fazendo a eleição mais suja de todas as que falsificou até agora.

“Não se encontra na nota que o Itamaraty divulgou sobre a questão um único átomo de coragem moral, ou de decência comum”J. R. Guzzo

Como tudo que se faz no governo Lula, a reação à fraude explícita da próxima eleição venezuelana foi atrasada, medrosa e malfeita. Não se encontra na nota que o Itamaraty divulgou sobre a questão um único átomo de coragem moral, ou de decência comum — é um murmúrio mole e em voz baixa dizendo que o Brasil vê com “preocupação” o roubo da eleição e lembra que não foi isso o que a Venezuela combinou em recente tratado internacional. A nota se apressa, é claro, em condenar qualquer “sanção” à ditadura de Nicolás Maduro por causa da sua fraude eleitoral anunciada — fica parecendo, até, que a real preocupação do governo brasileiro não é com a trapaça, e sim com o bem-estar futuro da tirania.

A vida inteligente foi banida no Itamaraty desde o primeiro dia do governo Lula, como se constata, mais uma vez, pelos baixos teores de qualidade da nota publicada sobre o caso. Não é assim que se trabalha numa diplomacia profissional; é indispensável, no fim das contas, haver um mínimo de princípios naquilo que uma nação apresenta ao mundo como a sua postura oficial. Mas o Brasil de hoje não tem mais o que se chama “política externa”. Tem só o angu de ideias mortas e de desejos juvenis confusos que saem das cabeças de Lula, de Janja e do chanceler-chefe Celso Amorim. Um dos produtos dessa maçaroca é a fixação com a ditadura de Venezuela; a sua defesa virou, aparentemente, a grande prioridade das relações externas do Brasil.

O ponto mais baixo a que se chegou nesta descida do governo ao submundo da delinquência internacional foi a última manifestação de Lula sobre as eleições de Maduro. Quando o ditador cassou, sem nenhuma razão minimamente legal, a candidatura da sua opositora Corina Machado, Lula disse que ela não deveria “ficar chorando” — tinha mais é de arranjar um outro nome para concorrer em seu lugar. Há dois problemas insolúveis com essa declaração. O primeiro é que Corina fez exatamente o que Lula disse para fazer, e conseguiu tornar viável uma outra candidata para disputar com Maduro — aliás, com um nome igual ao seu. Resultado: essa outra candidata também foi proibida de concorrer. O segundo é que Lula quis se exibir como herói. Disse que também ele não pode concorrer à eleição de 2018, mas teve a grandeza de indicar outro nome. Esqueceu de dizer que Corina foi eliminada por uma violência da ditadura — e que ele não concorreu porque estava na cadeia, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

É tudo uma contrafação sórdida. O Itamaraty fala da sua “preocupação” com o linchamento da segunda candidata da oposição. Mas porque não se preocupou com o linchamento da primeira — essa que Lula decidiu desprezar em público? A situação e a ditadura eram exatamente as mesmas. O balanço final de tudo isso é que o Brasil se junta, mais uma vez, à facção das ditaduras que apoiam Maduro e contra as democracias que condenam o seu regime. Espera-se agora pelo dia da eleição. O ditador vai ganhar, porque só ele é candidato — e aí, o Brasil vai cumprimentar o “eleito”? Acaba de cumprimentar Putin e a sua vitória com 90% dos votos. É onde foi parar a política externa brasileira.

Fonte: Revista Oeste

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