Mensagens obtidas pela Folha de S.Paulo mostram que o ministro mandou investigar o deputado federal e indicou o que fazer
Mensagens trocadas em novembro de 2022 mostram um pedido do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para associar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao argentino Fernando Cerimedo, acusado de disseminar desinformação sobre fraudes nas eleições.
O pedido foi repassado pelo juiz auxiliar de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Antônio Vargas, a Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão que era subordinado a Moraes no TSE. As mensagens foram obtidas pela Folha de S.Paulo e divulgadas nesta quarta-feira, 14.
Cerimedo foi investigado por afirmar que cinco modelos de urnas, onde Luiz Inácio Lula da Silva recebeu mais votos, não passaram por testes de segurança.
Em 4 de novembro, o juiz auxiliar de Moraes escreveu a Tagliaferro: “Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro. A ligação do gringo com o Eduardo Bolsonaro.” O assessor, por sua vez, respondeu: “Será que tem?”
Em conversas posteriores, Tagliaferro mencionou um vídeo de Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que promoveu as teorias de Cerimedo, afirmando que isso poderia estabelecer uma ligação.
“Tem um vídeo do Eduardo Bolsonaro com a bandeira do jornal que fez a live de ontem, conseguimos aí relacionar ele àquilo”, escreveu Tagliaferro. ” Que beleza”, respondeu o juiz auxiliar de Moraes.
Juiz auxiliar de Moraes sobre Eduardo Bolsonaro: ‘Esse é bandido’
Em 6 de novembro, Tagliaferro informou a Vargas que Cerimedo e Eduardo Bolsonaro seriam amigos há dez anos. O chefe do combate à desinformação brincou dizendo que “se prender o EB, o Brasil entra em colapso”. Vargas respondeu: “Esse é bandido”.
Mais tarde, Tagliaferro enviou um relatório intitulado “TSE – Relatório – Análise Manifestações Antidemocráticas Fernando Cerimedo”, contendo prints de vídeos e fotos de Cerimedo com Eduardo Bolsonaro. “Veja se o ministro vai gostar”, acrescentou.
Do relatório produzido por Tagliaferro consta: “Ainda em análise, identificamos, conforme exposto, a ligação entre Eduardo Bolsonaro e o autor das lives, Fernando Cerimedo, o quais (sic) se conhecem há muitos anos.”
Vargas responde mais tarde a Tagliaferro: “Gostou e está disparando ordens.” Numa das mensagens consta as possíveis ordens de Moraes: “VARGAS: pode bloquear os sites indicados. AIRTON: na PET sobre isso vamos determinar o bloqueio também e o bloqueio das contas. Lembre-se sempre de dar ciência a PGR”, diz a mensagem.
Marco Antônio Vargas repassou, então, ao assessor do TSE o pedido do ministro e disse: “Puxou o fio da meada. Isso que importa”.
Tagliaferro, depois do envio, afirmou que “ele [Moraes] pode responsabilizar o EB pelas manifestações”. “Já mandou preparar investigação nesse sentido no STF kkkkk”, respondeu o juiz do TSE.
Não fica claro nas conversas quais medidas foram tomadas por Moraes após o envio do relatório.
Fonte: Revista Oeste