O Rio Meia Ponte é de longe um dos rios mais importantes de Goiás, afinal a sua bacia hidrográfica é responsável por 50% da água da população goiana e banha 18 municípios no Estado. O rio nasce na serra dos Brandões em Itauçu, a 70 km da Capital, e percorre 500 km até desaguar na Bacia do Rio Paranaíba em Cachoeira Dourada. Mas, a cada dia que passa o rio goiano fica em situação de calamidade. Apesar das chuvas intensas entre o final de 2021 e início de 2022 a tendência é que o nível da água baixe, principalmente agora com mais de 100 dias sem chuva.
Membro dos Guardiões do Rio Meia Ponte, uma rede de articulação entre a sociedade civil organizada que tem como objetivo recuperar o manancial, Ernesto Renovato diz que a situação está indo de mal a pior, tanto em termos de quantidade, quanto da qualidade da água. “É lastimável, principalmente na região metropolitana de Goiânia, além da vazão ano a ano mais reduzida. O problema do desmatamento e da poluição é muito grave. Temos um rio de águas imprestáveis em cerca de 200 quilômetros de Goiânia”.
Para ele, uma forma de amenizar a situação seria a implantação de projetos nos moldes do Programa Produtor de Águas, no qual o produtor rural recebe incentivo financeiro para recuperar e conservar suas nascentes. Ernesto salienta ainda que outros pontos importantes que deveriam ser seguidos à risca seriam a fiscalização e punições mais efetivas para quem insiste em prejudicar o rio, seja com invasões, desmatamento ou poluição.
“Trabalho de educação ambiental nas cidades que compõem a bacia do Meia Ponte, principalmente aquelas onde o rio de fato passa na cidade, tornando o rio um capítulo necessário dentro da disciplina de educação ambiental nas escolas”.
Período de estiagem
Gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim afirma que o Estado passa um período de estiagem, e devido a isso os rios baixam o nível e consequentemente a vazão do Rio Meia Ponte. Ele afirma que o Rio está com nível crítico 1, que representa escoamento menor ou igual a 5.500 litros por segundo.
Amorim chama a atenção para o uso racional de água a fim de evitar desperdícios. Uma forma de conseguir conter os danos é por meio de monitoramento da vazão por parte da própria Cimehgo. “Estamos monitorando 24 horas por dia o Rio Meia Ponte, a questão das moto bombas também e avaliando a cada passo como tem se comportado, mas precisamos sim que a população faça a sua parte em economizar água”.
Então, são utilizadas para monitorar tanto o nível do rio quanto a vazão que está chegando na Capital. Com relação à vazão, o gerente explica que ao atingir a média de 5 mil litros de água a Saneago tira 2 mil litros por segundo. As estações estão situadas em alguns pontos como em Inhumas, Goiânia – que possui 3 pontos – e próximo ao município de Itumbiara. O objetivo do Cimehgo é aumentar o monitoramento na Bacia. “Estamos trabalhando para avançar mais nesse sentido”, destaca Amorim.
Membro dos Guardiões da Meia Ponte, Ernesto Renovato afirma que o nível crítico no qual o rio se encontra não se deve apenas a falta de chuva. Ele declara que mesmo se a bacia do Rio estivesse saudável, apesar de ficar muitos dias sem chuva, seria possível passar o período de estiagem sem a preocupação de seca.
“Com uma bacia protegida, a maior parte dessa água infiltraria no solo e teríamos o lençol freático carregado. O rio Meia Ponte inclusive sai de Goiânia com quase o dobro de água com que chega na área de captação, em virtude dos cursos d’água que cortam a região metropolitana. Imagina se a cidade respeitasse seus mananciais e tivéssemos um rio de águas limpas”. Ele acredita que dessa forma a captação poderia ser a saída de Goiânia ter ainda mais disponibilidade hídrica para tempos com menos chuvas.
Os problemas só aumentam
Fatores naturais como a seca não são o único problema enfrentado pelo Rio Meia Ponte, conforme destaca Ernesto Renovato, além de receber grande carga de poluição proveniente de esgotos residenciais e industriais, ainda sofre com desmatamento, assoreamento, quantidade absurda de resíduos sólidos, como plásticos e invasão de áreas de preservação permanente.
Ele esclarece que a vazão do rio diminui a cada ano em virtude do aumento do desmatamento para dar lugar a pastagens e plantações. “Esse fato, além de diminuir a disponibilidade hídrica, por conta do uso da água para irrigação, também leva ao aumento da poluição de suas águas por causa do excesso de nutrientes e pelo uso de agrotóxicos que podem ser carreados para as águas principalmente no período chuvoso”.
Outro fator apontado por ele é que além do desmatamento provocado pela atividade, a criação de gado quando sem critérios, pode levar ao pisoteamento das áreas de nascente, reduzindo ou até acabando com ela. No que se refere a políticas públicas voltadas para a preservação do Rio, ele opina que não passou apenas de promessas para esse ano de 2022. Segundo Renovato, o tratamento secundário na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Heĺio Seixo de Brito, que ampliaria a eficiência da ETE dos atuais 50% para cerca de 85%, ainda não foi inaugurado.
“Novos interceptores de esgoto que poderiam resolver o problema do lançamento de esgoto in natura no rio, em regiões como setor Jaó e Negrão de Lima, nem saiu do papel. A ETE do Parque Ateneu que receberia esses esgotos ainda não foi ampliada. Ou seja, temos um problema de anos, com uma cidade em crescimento acelerado, que não se resolve no tempo que é preciso”, desabafa.
Ernesto afirma que a poluição no Rio Meia Ponte começou a se tornar um problema mais grave a partir do fim da década de 60, ou seja isso significa meio século de poluição. “Se em pouco mais de 50 anos a situação mudou, podemos sim afirmar que o rio está abandonado”.
FONTE: JORNAL O HOJE